Para crer na Igreja de Cristo você precisa antes crer no Cristo da Igreja. Todos, repito, todos os cristãos serão levados a um momento em que se perguntarão: "o que eu estou fazendo aqui? Porque tenho gasto tempo, dinheiro, energia, saúde nesses ministérios que atuo? Porque permanecer?" E todas as vezes Deus nos leva a um lugar escuro e profundo, se a resposta não for "estou aqui por causa de Cristo" não valerá a pena.
Isso me leva a pelo menos duas perspectivas novas.
Primeiro preciso me perguntar o que tenho escondido de sentimentos, sonhos e planos dentro de uma "espiritualidade vazia" ou, como costumo chamar, em uma espiritualização daquilo que deve ser encarado de maneira psicológica, física, intelectual ou social. Várias vezes que cheguei à pergunta "o que estou fazendo aqui?" era porque até aquele momento eu estava trabalhando pra dar conta do meu ego. Estava ali para me sentir amado, valorizado, bem sucedido. Por causa de algum desfalque de minha auto imagem, colocando tudo isso na conta de Jesus, como se o trabalho árduo, sem sentido e sem reflexão fosse uma devoção profunda a Ele, enquanto na verdade era apenas um escape de lidar com duras realidades do meu ser. A pergunta "o que estou fazendo aqui?" desta maneira, por vezes emerge depois de muita dor, quando passamos meses até nos dar conta que as migalhas de amor que procurávamos nos aplausos, reconhecimentos e outras coisas não estavam mais dando conta ou nem mesmo chegando à nossa boca. Deus também nos leva ou pelo menos permite momentos desgastantes. Por ser Deus e não um ídolo Ele não está nada comprometido com a minha auto imagem distorcida.
A segunda perspectiva é que só permaneceremos no trabalho da Igreja de Cristo transformados pelo Cristo da Igreja. Sim, eu posso permanecer no rol de membros e nas atividades comuns, mas estou falando do trabalho apaixonado e com propósito. Certa vez conversava com um missionário que foi pra África e eu o ouvia atentamente por ter ainda o romantismo dos testemunhos missionários. Imaginava que estar lá era sofrimento externo - como falta de recursos - mas suprido pelo doce amor de uma Igreja, ou mesmo de uma comunidade, que percebia o trabalho lindo e prestativo (o que eu tinha em mente não era missões, e sim paternalismo, mas deixemos pra outro momento). Aquele missionário então disse algo muito profundo, ele virou pra mim e falou "cara, você tem que ir pra África por amor a Jesus, porque se for pra África por amor à África logo você volta". Então contou alguns relatos de pessoas que ele e seus colegas ajudavam e logo estavam inventando conversas e traições para eles. Aquilo me serviu como uma luva, ainda no começo do ministério eu traduzi isso pra mim: "tenho que estar na Igreja por amor a Jesus, porque se for por amor à Igreja não permanecerei muito tempo". Bom, eu sei o que acabei de escrever, parece chocante. Você poderia dizer corretamente que somos chamados por Jesus para amar a Igreja. E eu diria que aquele missionário também era chamado por Jesus para amar a África. A questão aqui é qual amor sustenta o outro. É o amor à Igreja que sustenta o amor à Jesus ou o amor à Jesus que sustenta o amor à Igreja?
A Igreja de Cristo só faz sentido por causa do Cristo da Igreja. Quanto mais amarmos, nos deleitarmos em Sua pessoa, expressarmos em adoração seus atributos e obras, passarmos tempo com Ele, mais amaremos a Sua noiva. Entretanto antes do fim tenho que fazer um adendo importante: isso não deve ser medido semanalmente, nem mesmo em curtos períodos. Haverá momentos que você não estará em profunda paixão para com a Igreja e isso não refletirá falta de amor por Jesus. Acho que a pedra de toque é responder: estou deixando Jesus me moldar, meu amor por Ele crescer, minha atitude de bondade para com os outros refletindo o caráter Dele se desenvolver? Estou confiando ou tentando confiar mais Nele? Assim, como um lento e constante processo, Cristo vai te transformando à imagem Dele. Assim, portanto, termino como comecei: para crer (e agora amar) a Igreja de Cristo você precisa crer (e amar) o Cristo da Igreja.